sábado, 30 de novembro de 2013

Agulhas, agulhinhas e AGULHADAS!!!

Desde pequeno,ao pensar em agulhas entrando em meu corpo, sentia um arrepio na coluna e uma "gastura" só de imaginar!
Acho que muita gente  deve sentir a mesma coisa! Mas tenho observado que muitos não imaginam  que a sua displicência pode levar a uma vida repleta de agulhadas doloridas!
Por isso resolvi fazer essa postagem:
- Um diabético insulinodependente, tomando a insulina 2 vezes ao dia em um ano, tomará 730 furadas! Se tomar 3 vezes ao dia , tomará 1095 furadas!
- Um renal crônico, fazendo 3 sessões de hemodiálise por semana, tomará por ano 312 furadas! Isso se o técnico acertar de primeira, se não, perde-se a conta!
Em resumo:
Se você for diabético e renal crônico tomará por baixo 1042 furadas! E por alto 1407 furadas!
Se resolver, como eu fazer Acupuntura vai perder a conta!! ( Em tempo, a acupuntura tem me ajudado muito e é excelente!).
Faço um alerta a quem tem horror de agulhas e é diabético! Se cuide pois o negócio é pesado!
Um pouquinho de sadismo não faz mal a ninguém, por isso estou postando a foto das agulhas da hemodiálise, quem sabe  assim, meus amigos e leitores pensaram melhor antes de se atolarem em refrigerantes, doces e outras bombas de efeito retardado!

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Perdas e ganhos que tive com a doença

Quando adoecemos apenas olhamos para todos os prejuízos que a doença nos provoca em nossas vidas!
Nunca contabilizamos os ganhos que ela nos traz! Mas se mudarmos o nosso ângulo de visão, podemos descobrir também os ganhos!
Com a minha doença perdi o meu trabalho que já disse considero sagrado! O contato diário com os amigos, a satisfação de participar de projetos interessantes, o cotidiano de uma instituição da qual sentia orgulho de participar. Minha doença leva a aposentadoria por invalidez.  Não fazia parte dos meus planos me aposentar!
O tratamento me prende 3 vezes por semana, durante 4 horas diárias, as segundas, quartas e sextas-feira. Não posso fazer nada durante esse horário, sejam festas de aniversários, Natais, etc.
Chuvas, temporais, tempestades, alagamentos, nada, absolutamente nada, muda isso! Tenho que estar na máquina esse horário!
Perdi a liberdade de comer o que quiser na quantidade que quiser. Até a água precisa ser controlada! Para alguém que bebia com facilidade 2 litros de água isso foi terrível! Até hoje, sofro com essa restrição e luto para chegar no meu peso seco no dia de hemodiálise!
Frutas que adoro, verduras que nem tanto! Agora preciso controlar por conta do potássio, fósforo! É uma verdadeira ginástica! Se fizer uma tabela do que pode e do que não pode, a gente desiste de viver! No entanto, uma certa rebeldia é possível:! (Entendam como quiser!)
O resumo da ópera é que perdemos muito a nossa liberdade de viver,de ir e vir e de comer!
Mas o reverso da moeda também é possível!
Pude me reaproximar de minha família, especialmente de minha mãe e de minha irmã! Isso foi de significativa importância para minha vida! Passo todas as manhãs com a minha mãe e só Deus sabe o porquê disso! Vejo meu pai todos os dias para acompanhar as suas traquinices ( Depois do Mal de Alzheimer virou uma criança teimosa!)
Posso acordar tarde, coisa que nunca fiz em toda a minha vida! Sempre acordei muito cedo e mesmo nas férias o hábito não deixava que eu acordasse tarde!
Ganhei novos amigos: Gilbertão, Albertino, Hunaldo,e tantos outros que dividem comigo suas histórias, antes e durante as sessões de hemodiálise. Os técnicos de enfermagem, os enfermeiros e os médicos que agradeço e peço a Deus verdadeiramente por eles pois são imprescindíveis em nossa vida!
Sempre tive uma preocupação com a minha família (pais e irmãos)! Hoje posso dispensar alguns cuidados mais efetivos com eles!
É preciso saber ler o que a doença nos traz de benefícios! Nada acontece por acaso! Nunca fiz maldições da doença, pois acredito firmemente que se aconteceu comigo é porque tinha que acontecer! Apesar de todos os prejuízos e limitações podemos ressignificar tudo em nossa vida!

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Preciso ouvir vocês!!

Caríssimos leitores!
Comecei esse blog na tentativa de colocar pra fora impressões, sentimentos represados e situações que vivo desde a descoberta de minha doença! Não tinha jamais a expectativa de ser lido em menos de um mês por mais de 1600 pessoas!
Estou surpreso e curioso para saber o que vocês tem achado do meu blog, pois é a primeira vez que escrevo um blog e não tenho a mínima ideia do que pessoas na Malásia, nos Estados Unidos, França, Portugal e todo o Brasil tem acompanhado as minhas crônicas.
Quero dizer que conheço o significado da palavra CRÔNICA e não tive a pretensão de escrever atendendo ao conceito. Apenas escrevo sem revisão, e da forma como as ideias vem a minha cabeça, sem a preocupação de obedecer a uma ordem cronológica dos fatos em si.
Assim, se não for pedir demais, gostaria de um retorno de vocês (poderia dizer FEEDBACK) comentando o que tem achado. Não se preocupem em agradar, podem ser críticas, elogios, contribuições, o que vocês acharem válido.
A opinião de vocês é muito importante, muito embora não posso garantir que mudarei a minha proposta inicial, nem o meu estilo de escrever o que sinto e como sinto!
Obrigado a todos, indistintamente, pela visitas e pelos comentários, antecipadamente!!

Trens fantasmas e cuecas!!




Quando se está internado em um hospital, perde-se todo o controle da própria vida! Vira-se um número: paciente do quarto 7c, 2a, 3d.
No meu caso, tirar a roupa, despir-se diante de estranhos, ser levado em cadeira de rodas ou macas, quando não me sentia impossibilitado de andar mexia com os meus sentimentos de altivez.
Andar de cadeira de rodas ou na maca deitado me remeteu a sensação de andar naqueles trens fantasmas da nossa infância. Nunca vi sensação tão parecida! O negócio começa a acelerar devagarinho e quando a gente vê, parece que vai se chocar na porta de vidro! Ô susto da peste! Alguém deveria orientar aos enfermeiros sobre esses temores!
Quando se está tentando cochilar depois de uma noite mal dormida, abre-se a porta do quarto com tanta violência que você fica pensando que o BOPE vai entrar armado até os dentes pra lhe pegar!
Na UTI não me deixaram nem ficar com a minha cueca! O último limite da minha identidade foi quebrado! Afinal porque não se pode ficar com a própria cueca na UTI? Normas que não entendo e acho que nunca entenderei!
Aproveitava para rir desses fatos que considero inusitados! A vida precisava continuar!

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Em meio a toda a escuridão, você estava lá.....Homenagem a minha esposa Dani

Na penumbra dos meus dias mais escuros você estava lá! Quando as noticias começaram a virem amargas e intragáveis você estava lá!
Vi o seu sorriso farto ir sumindo aos poucos na antessala do Hospital Primavera quando os médicos, começaram a investigar as hipóteses diagnósticas de minha doença!
Vi o seu esforço em tentar dissimular o nervosismo para que eu não percebesse toda a angústia que lhe tomava o espírito!
Diante da escuridão que nos envolvia, uma pequena centelha começou a se acender para nós.Se havia qualquer dúvida mútua sobre o sentimento que nos unia ela foi aos poucos dando lugar a uma firme convicção de que é ao seu lado que desejo ir até o fim dos meus dias!
Para aqueles que duvidavam do nosso sentimento, não resta mais pretexto plausível para questionamentos!
A porta continua aberta para que você busque seu caminho se assim entender que deve agir!
Mas, não é de agora que você tem demonstrado o desejo de permanecer ao meu lado!
Quando tive que ir buscar o nosso sustento fora de Aracaju, você ficou com Dudinha recém-nascida e teve que segurar a onda em meio a tantas privações!
Não sabemos o que o futuro tem guardado para nós, mas quero que saiba, que no presente tenho orgulho de seu esforço para se superar ante os desafios que lhe são colocados!
Seja sempre forte! Seja qual for a situação, olhe para o alto, lá onde acreditamos que Deus está!
Grande afetuoso abraço!!

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Não vejo mais o cais, só Deus e eu agora!!

A minha vida é do Mestre
Meu coração é do meu Mestre
O meu caminho é do Mestre
Minha esperança é meu Mestre.
A Deus eu entreguei
barco do meu ser
E entrei no mar a fora
Pra longe eu naveguei
Não vejo mais o cais
Só Deus e eu agora.
A minha vida é do mestre
Meu coração é do meu Mestre
O meu caminho é do mestre
Minha esperança é meu mestre
Na solidão da lida
Eu pude perceber
O quanto Deus me ama... (Deus me ama, ah...)
As ondas grandes vêm
Tentando me arrastar
Pra longe da presença.
A minha vida é do mestre
Meu coração é do meu mestre
O meu caminho é do mestre
Minha esperança é meu mestre

Essa música durante o início de minha enfermidade passou a ser a trilha sonora de minha vida. Especialmente a parte que diz:  não vejo mais o cais, só Deus e eu agora...
Falar de Deus quando está tudo bem em nossa vida é muito fácil! Mas experimentar a solidão e ver a vida se esvaindo como areia por entre os dedos é muito difícil. Porque exige de nós um abandono nos braços de Deus.
Pensava em meus filhos, minha esposa, minha família! Como eles ficariam sem mim? Muitas madrugadas, levantei e fui para a janela do Hospital Primavera. A cidade toda se enfeitando para o Natal, e um vento que entrava uivando e assanhando meus cabelos com violência. Naqueles dias para mim, a morte era iminente! Via isso na expressão cerrada dos médicos,, de minha esposa, dos amigos que foram me visitar! Ninguém nunca "falou" nada, mas cada gesto, cada expressão me dizia isso!
Passei a sentir uma falta de ar que me obrigava a buscar o ar lá no fundo do peito, numa respiração ofegante, sofrida. Meu pensamento se voltava pra Dudinha que havia dias que não a via!
Sei da gravidade de minha doença. Cada sessão de hemodiálise representa uma vitória pequenina na grande batalha pela vida!
Mas vale a pena viver e celebrar a vida! A ideia da morte sempre foi presente em minha vida! Perdi dois irmãos em situações dramáticas! Meu irmão Odir, em 1992 de acidente de caminhão, na antevéspera de ano novo. Foi um choque para toda a família. Filhos pequenos, sonhos dilacerados e uma dor que demorou a amenizar em nossos corações. Meu irmão Bené ainda mais sofrido para todos nós! Um suicídio doloroso que para nós até hoje ainda dói! Era meu companheiro de todas as horas. Em minha vida de solteiro curtíamos sentar numa mesa de bar para conversarmos a noite inteira, tomando cerveja, brincando, rindo, tocando violão. A sua morte foi uma tragédia! Sofremos muito até hoje e secretamente sinto culpa por não ter percebido toda a tormenta que havia em sua alma para tamanha loucura!
Depois disso,o meu Trabalho de Conclusão de Curso versou sobre o tema: "A morte no contexto escolar". Li praticamente toda a obra da Drª Elizabeth Kubler Ross, que procura analisar os diversos cenários que envolvem o contexto morte. Esse trabalho suscitou discussões acaloradas, pois tratava de um tema praticamente inédito na educação. Como sempre, fui alvo de críticas e polêmicas,( como sempre em minha vida!).
O assunto morte não é capaz de me assustar! Sem falsa modéstia! O que me preocupa são meus filhos, especialmente Dudinha!
Mas se ela vier para mim, tenho que acreditar que Deus cuidará de tudo! 
Se isso acontecer, com certeza: não vejo mais o cais, só Deus e eu agora!!

Nunca quis me aposentar...

A aposentadoria nunca esteve em meus planos. Trabalho desde os 14 anos de idade e sempre considerei a aposentadoria uma possibilidade fora de cogitação.
Vi amigos e até um irmão perderem completamente o sentido da vida após a aposentadoria. Ter o dia todo livre enquanto os nossos queridos estão ocupados acaba sendo uma prisão. Essa minha concepção me levou até a elaborar um projeto de Preparação para a Aposentadoria, no Senac, o que não foi bem aceito, ou talvez eu não tenha sido competente para defendê-lo. A verdade é que nunca quis me aposentar.
No hospital, logo que recebi o diagnóstico de Insuficiência Renal Crônica, fui pesquisar na Internet, e assim que acessei a Cartilha dos Direitos do Renal Crônico, o mundo desabou sobre os meus ombros. Teria que me aposentar! Todos os meus projetos se acabariam ali! Foi difícil não demonstrar minha angústia a Dani que estava ali sempre sobressaltada com todas a noticias ruins que chegavam a cada momento. Achei graça quando ela foi até à Clinese conversar com a assistente social e me deu a notícia de que eu deveria me aposentar. Lembro de sua expressão de tristeza e desapontamento, mas eu já sabia.
Há muito tempo que vinha trabalhando os três turnos ( manhã, tarde e noite). Foi assim que paguei a primeira casa que compramos e muita gente boa esquece disso.
Era assim que mantinha a minha família! 
O Senac em minha vida foi um grande presente de Deus! Acho que Deus quis me presentear ao colocar em meu caminho esse gigante chamado +Paulo do Eirado Dias Filho! Por incrível que pareça foi dele o primeiro "diagnóstico" da minha doença. Em uma conversa reservada em sua sala, ele me chamou a atenção para o fato de ter notado uma queda na minha produção. Disse isso com  convicção mas com um respeito muito grande.Nos últimos meses minha qualidade de trabalho vinha caindo vertiginosamente! Acordava bem, mas quando chegava as 9 horas, era tomado por um sono violento que fazia com que dormisse em qualquer lugar! Não tinha ânimo para tocar mais nada!
No Senac consegui realizar muitos sonhos que não pude fazer nas escolas por onde passei: O projeto foguetes que  teve uma resistência muito grande, afinal o que o Senac tem a ver com foguetes? Não sei, mas o evento foi um sucesso! Mais de trezentos jovens da Aprendizagem felizes mostraram o que o Senac tinha a ver com foguetes! 
O projeto +Miguel Nicolelis que era um projeto antigo meu foi abraçado por Paulo do Eirado dias Filho com coragem e sei o quanto ele sofreu a resistência! Afinal, mais uma vez, o que o Senac teria a ver com medicina, interface cérebro-máquina, macaca aurora? Mais uma vez, um auditório lotado com professores das faculdades e universidades, o atual reitor da UFS, e outros, mostrou o que o Senac tem a ver! O professor Nicolelis foi aplaudido de pé por todos os presentes e foi o Senac (?) o promotor do evento.
O projeto do Padre Roberto Landell de Moura. Grande brasileiro inventor do rádio. Mais uma vez fui motivo de piadas e gozação. Lembro da palestra do Hamilton Almeida, biógrafo do Padre Landell e de lágrimas nos olhos de alguns daqueles que fizeram gozação. Fomos o único Senac a homenagear o Padre Landell e figurar em publicações que rodaram em mais de 35000 jornalistas.
Lembro que em uma dessas ocasiões, sentindo a resistência de algumas pessoas do Senac, entrei na sala do Paulo e perguntei se era pra tocar mesmo o projeto. Ele me olhou fixamente nos olhos e reafirmou com segurança e voz firme: É pra fazer!  É ótimo ser comandado por um líder!
Esse é um pequeno resumo de minha vida profissional nos últimos três anos!
A aposentadoria nunca fez parte dos meus planos. No primeiro dia após a saída do hospital, fiquei perdido como o passarinho novo que cai do ninho! Não sabia para onde ir, o dia ficou longo, olhava para o relógio a toda hora, fui buscar minha filha mais cedo no hotelzinho, porque é muito triste perder algo que lhe é muito caro! Para mim, meu trabalho era algo sagrado! .

domingo, 24 de novembro de 2013

Meus amigos....

Antes de minha doença, por volta do mês de setembro de 2012, tive um sonho com um velho amigo. Fazia tempo que não nos víamos. Por um período de tempo relativamente longo, tivemos uma convivência muito próxima. Depois, pelas contingências da vida nos separamos e sempre que nos reencontrávamos era aquela festa. A nossa amizade resistira apesar do tempo e das distâncias.
Voltando ao sonho, fiquei preocupado e o procurei no Facebook. Tomei um susto! Meu  amigo Aldo estava careca, usando um chapéu e muito pálido. Fui até a sua casa e fiquei sabendo que um câncer de estômago o acometera. Fiquei muito triste com a notícia, pois o Aldo era um amigo querido! Sem alardes passei a visitá-lo praticamente todos os dias antes de ir ao Senac. Ficava em sua casa uma hora, conversando e falando amenidades.
No mês de novembro, após a minha doença, ele foi algumas vezes ao hospital, retribuindo as minhas visitas. Soube que depois da visita ao hospital ele passou mal e precisou ser internado, provavelmente por estar com o organismo debilitado. Depois, ao sair do hospital, ele me visitou alguma vezes em casa.
Depois disso ele foi se debilitando mais enquanto eu ia aprendendo a administrar a minha doença. Nós tratávamos com o termo "Velhinhos".
Ia a sua casa até que meu amigo se internou no Hospital São Lucas. Era o começo do fim! Convidei meu amigo Pe. Wagner para que administrasse os Sacramentos e assim foi feito. Depois de alguns dias, para descanso dele e nosso o meu amigo morreu. Dentro de mim a convicção de que não o abandonei, e fiz o que pude para que ele se sentisse acolhido na minha amizade.
Quando se adoece vira-se uma carta fora do baralho! Quando encontro algumas pessoas, quase noto em seus olhos a surpresa por ainda não ter morrido. Sinto-me um incômodo aos demais! Hoje, ando de bengala pois tenho fraqueza nas pernas.
Amigos? Tenho muitos! Basta ver no facebook! Mas não sei por onde andam!! Sumiram praticamente todos!
Sei de praticamente todos os pretextos do abandono! Muito trabalho! Falta de tempo! Aumento da carga de trabalho! Posso estar enganado mas é exatamente assim que me sinto!
A realidade é que é difícil conviver com um doente sem que isso mexa em seus medos! Esse doente sou eu amanhã! A doença chegará para todos,é apenas uma questão de tempo!
A morte pode chegar antes na vida de qualquer pessoa! E um doente crônico é uma prova viva disso!
Não faço críticas aos meus amigos, apenas lamento a sua falta pois para mim a amizade é algo muito próximo da irmandade e sentir o abandono é vivenciar um luto doloroso!
Espero que essa texto sirva de alerta, pois amanhã os papéis poderão estar invertidos, e de coração, não desejo pra ninguém que passem por tudo o que tenho passado.

sábado, 23 de novembro de 2013

Meus pais...

É: bom saber que eles ainda estão por aqui, e poder vê-los todos os dias após a minha doença se constitue um doce alento.
Eles são fortes, apesar da idade! Demonstraram isso com a perda de dois filhos em situações dramáticas!
Prosseguiram a vida cumprindo a difícil missão de serem pais de verdade!
Meu pai aos 82 anos de vida, luta com um câncer de próstata e hoje com Mal de Alzheimer é apenas sombra do homem forte e inteligente que já foi. Deixo aqui um alerta para as famílias que tem idoso. Se não houver uma vigilância, o Mal de Alzheimer destrói todo o legado que essa pessoa construiu ao longo de sua vida. O idoso fica chato, pergunta a mesma coisa diversas vezes, fica teimoso, desconfiado dos outros, não quer tomar banho, dentre outros comportamentos que irritam a quem cuida. Isso é extremamente sério! É preciso levar em consideração que são comportamentos que ADVÉM DA DOENÇA.
Foi com meu pai que aprendi a gostar das plantas. Quando pequeno em nossa casa, ele me deu um cajueiro para cuidar. Em frente a nossa casa, plantávamos e aguávamos diversas plantas. E assim ele plantou grande parte do bosque que hoje serve a toda a comunidade.
Lembro-me dele correndo conosco na praia, sempre forte, altivo, perspicaz! Com ele aprendi muitas coisas que me foram úteis em toda a minha vida.
Lembro-me das festas de fim de ano, as brincadeiras, as risadas, os presentes e uma mensagem que ele sempre fazia questão de dar, pedindo a união da família e chamando  nossa atenção para uma maior entrosamento entre os irmãos.
A minha mãe é uma grande alquimista culinária! Consegue fazer coisas na cozinha que sempre me surpreende! Um tempero maravilhoso!
Ao longo de minha vida sempre briguei muito com a minha mãe! Discordava de seus pontos de vista e ela dos meus! Mas nunca desisti dela! Sempre entendi que quando a gente briga com uma pessoa é porque a ama!
Quando a gente não ama uma pessoa o melhor caminho é o desprezo e a indiferença.
Antes da doença tive um problema sério com a minha mãe e deixei de frequentar a sua casa. Mas passava todos os dias de carro e buscava vê-los para ver se estava tudo bem. Durante esse período vivi um luto de pais vivos e só eu sei o quanto foi difícil para mim esse período.
A doença me resgatou isso que sempre foi tão caro para mim!
Quando sai do hospital a primeira pessoa que quis ver foi a minha mãe! Poder ouvir a sua voz me recebendo foi algo divino!
Percebi que meus pontos de convergência com ela são infinitamente maiores que meus pontos de divergência! O que nos une deve ser mais forte do que o que nos separa!
Os nossos pais são o nosso porto seguro, mesmo velhos, alquebrados pela idade, sofridos,  podemos deitar nossa cabeça em seus colos! Podemos chorar as nossas mágoas e frustrações da vida! Eles não rirão de nós! Eles nos perdoaram de todas as nossas ingratidões! Porque são pais verdadeiros!
Termino essa postagem com lágrimas vertendo em minha face! Nem sei porque choro!
Mas agradeço a Deus pelos pais que tenho e peço que os conserve pelo tempo que for necessário com saúde e sem tanto sofrimento!
Obrigado pai! Obrigado mãe pela vida que me deram!
Bença Pai! Bença mãe!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Meu carinho e reconhecimento à equipe de enfermagem da Clinese

Viviana (coordenadora), Sofia, Vinicius, Jucléssia, Vanessa Gomes, Raquel e as demais que não lembro o nome:
Vocês são como anjos sem asas,e no dia-a-dia se revelam imprescindíveis nas nossas vidas.
O jeito carinhoso e acolhedor que vocês demonstram conosco, apesar de reconhecer como uma atitude profissional fazem uma diferença muito grande em nosso estado de espírito.
A minha enfermeira especial Vanessa Gomes. Tenho um carinho enorme por você e sempre admirei o seu jeito responsável com que desenvolve suas atividades. Senta do nosso lado, observa os procedimentos e tem sempre uma palavra de carinho para conosco. Não guardo mágoa! Ha muito tempo aprendi a não guardar ressentimentos . Em nossa relação a vida me colocou precisando mais de você do que você de mim. E é assim que tem que ser. Aceite o meu abraço demorado e afetuoso.
Ao amigo Vinicius, generoso no trato, atencioso, sua presença dignifica a enfermagem.
A minha doce Jucléssia, você faz mal ao diabéticos por sua doçura natural!! Continue assim"
Sofia, apesar da pouca convivência demonstra ser uma pessoa forte, mas gentil e atenciosa.
Raquel, obrigado por tudo o que faz por mim e por meus amigos renais!
Viviana, a maestrina dessa orquestra, sei de sua responsabilidade e compromisso. Muito obrigado por tudo!

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O Circo de Horrores foi aos poucos se desvanecendo

Os dias foram passando e aos poucos fui conhecendo a história de vida de cada um.
Sem perceber, aquela imagem dantesca que denominei como desfile do Circo de Horrores foi se modificando.
As conversas antes das sessões, as histórias compartilhadas foram mudando dentro de mim a imagem anteriormente construída.
São pessoas como eu que estão lutando pela continuidade da vida! É muito difícil encontrar um renal crônico chorando pelos corredores. A conclusão que cheguei é que chegamos ao fundo do poço. Quando se chega ao fundo do poço só restam duas alternativas. Ou desistimos de tudo e ficamos lá esperando a morte, ou tocamos o fundo e damos o impulso em busca da luz do alto, em busca da vida!
Não foi o Circo de Horrores que mudou. Foi  meu ângulo de visão, meu ponto de vista!
Todo o processo de aprendizagem ocorre quando há mudança de comportamento! Para se viver depois da Insuficiência Renal Crônica é preciso reaprender a viver, a cada dia e a cada momento!

Neuropatia Diabética: Como diagnosticar e tratar com base na sua história natural

Como diabético e hipertenso, tenho conversado com muitos diabéticos que demonstram uma total ignorância acerca das complicações do diabetes, mesmo apresentando sintomas da doença. Isso em parte por displicência dos médicos que parecem também desconhecer ou minimizar a importância da informação. A Neuropatia diabética é uma dessas complicações, responsável por grande número de amputações. A aula que segue é uma das mais completas sobre o tema, embora esteja recheada de termos específicos da Medicina , mas com boa vontade dá para entender.

Minha gratidão e reconhecimento aos técnicos de enfermagem da Clinese

Gislene, Sandra Regina Cunha, Claudio Xavier, Celinha, Claudio, Gil, Taysa, Everton Brito, Vanessa, Ingrid, Nice, Aninha, Maurício, Zélia Chaves, Edna, Beth, Pablo, Fernanda e os demais que certamente esqueci de citar o nome, mas jamais esquecerei de suas presenças em nossa vida.
Acredito que o que vocês fazem não se medirá jamais pelo salário que recebem, mas acima de tudo pelo desprendimento em cuidar de pessoas.
De joelhos, sem demagogia eu agradeço a oportunidade de ter conhecido todos vocês! As palavras de conforto nas horas difíceis poderiam até ser clichês, mas são de um valor inestimável para quem ali passa suas 4 horas de diálise.
Acreditem, em minhas orações peço muito a Deus por vocês e fico triste quando algum de vocês saem para outra clínica a exemplo de Claudio Xavier, que foi quem me iniciou na hemodiálise.
A todos vocês sem exceção, meu abraço demorado e minha gratidão por tudo o que fazem por nós!! Deus os abençoe!!

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A saudade é uma navalha que corta fundo!!

Quem me conhece de perto sabe o quanto sou apaixonado por meus filhos. Lucas e Lívia do primeiro casamento e Maria Eduarda do segundo.
Quando adoeci e fui ao hospital, Maria Eduarda ficou na expectativa de que eu voltasse logo, o que evidentemente não aconteceu. Nos 13 dias em que fiquei internado minha cabeça quase pira ao imaginar o que se passava em sua cabecinha acostumada a estar comigo todos os dias.
Ela perguntava por mim a avó e a mãe e todas as vezes que eu sabia disso chorava por dentro um rio de lágrimas.
Um dia , resolvi falar com o Dr. Enilson, médico responsável por mim no Hospital Primavera. Fui enfático com ele e disse que já não aguentava mais de saudade de minha Duda. Perguntei se ele tinha filhos e apelei de verdade para que me deixasse ver minha Duda.
Ele permitiu que eu descesse e encontrasse com Dudinha na recepção. Vê-la ali tão magrinha, cheia de interrogações no rostinho lindo, envergonhada exigiu de mim um esforço sobre-humano para não chorar em sua frente e deixá-la preocupada.
A alegria em vê-la não foi maior que a tristeza em perceber o sofrimento em seu rosto. Meses depois, Dudinha me diz que uma coleguinha do Hotelzinho disse para ela que eu tinha morrido. Fiquei pensando o que motiva uma criança a ser tão cruel com outra tão frágil e sensível como Duda.
Nunca dei um abraço tão cheio de significado como dei em Duda. Fiquei alguns minutos segurando o choro no meu peito e a cobri de beijos.
Puxa! Como foi difícil voltar no tempo e escrever essa página! Não sou tão forte como um dia imaginei!!

A rebeldia como afirmação da vida

Durante os 13 dias internado, fui submetido a uma série de mudanças impostas pelos médicos: mudanças na medicação, fisioterapia, dieta, etc...

Mas posso dizer que a minha vida foi sempre marcada por uma inquietude interior desconcertante. Uma rebeldia que sempre me levou a questionar ordens e sanções impostas por quem quer que seja. Depois de alguns dias comendo a dieta prescrita, em determinado momento chamei a minha esposa Danielle e dei uma ordem de forma autoritária e imperiosa: - "Pegue dinheiro na minha carteira, desça na lanchonete e traga um salgado para mim". Ela me olhou com os olhos arregalados e tentou argumentar com delicadeza. Fui mais incisivo e duro: " - Vá agora e traga pois eu estou mandando". Naquele momento meu pensamento estava impregnando com a ideia da morte iminente. Se já iria morrer porque me privar de comer algo que tivesse sabor? Esse fato aconteceu por várias ocasiões durante o internamento.

Depois com o passar do tempo, distanciando-me do fato, pude constatar que toda aquela rebeldia no hospital era a minha atitude de reafirmação da vontade de viver, que não poderia ser diferente de tudo aquilo que vivi ao longo dos meus 44 anos de vida. Não seria a doença nem a morte que me faria aceitar com passividade seus caprichos.

Sou assim mesmo, meio teimoso e rebelde diante das vicissitudes que a vida me impõe.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

E o Natal estava chegando!

Após 13 dias internado, sai do hospital primavera no dia 05 de dezembro de 2012 e, sem saber direito como era a tal de hemodiálise, cheguei cedo à Clínica para ir me ambientando.
O desfile de horrores que se apresentou diante de mim, deixou-me angustiado. Os pacientes do segundo turno que começavam a sair era composto por gente de rosto sofrido, pele amarronzada, alguns se arrastando, segurando bengalas ou muletas, outros com o cateter à mostra, aquilo tudo foi me dando uma angústia, muito grande, até que uma senhorinha muito simpática, se aproximou e com uma voz mansa começou a falar comigo com um tom de voz maternal e carinhoso. Deu-me conselhos, falou de Deus e da importância de orar e com essas atitudes me trouxe uma tranquilidade impensável nos primeiros momentos que ali adentrei.
Marinheiro de primeira viagem, não levei nada e fui de bermuda no primeiro dia de hemodiálise. Fui colocado bem defronte ao ar condicionado que naquele dia parecia estar mais gelado. Um frio imenso aliado ao medo da hemodiálise fez com que eu telefonasse para a casa de Lucas, meu filho pedindo um lençol pois caso contrário não conseguiria concluir o processo.
Fui recepcionado por um negro educado e extremamente gentil chamado Everton Brito, que hoje considero meu amigo, assim com os demais técnicos e enfermeiros que trabalham na clínica.
Fui surpreendido com as luzes e a musiquinha do fim da sessão.
Fui para  casa e lembro-me da sensação de vazio dentro de mim. Dormi e lá pela madrugada acordei, e, a primeira coisa que meus olhos bateram: os enfeites da árvore de Natal montada na sala!  Pensei com meus botões: -  Que belo presente de Natal eu recebi!!
Quanto ao circo de horrores, prometo uma postagem especial ! ;Aguardem!

Pessoas em meu caminho

Sempre considerei que todas as pessoas com as quais convivi e convivo são importantes. Digo isso sem nenhuma demagogia. Mesmo as mais difíceis e adversas são importantes pois nos obrigam a uma vigilância sobre nós mesmos moldando o nosso comportamento. Posso dizer que já fiquei triste por deixar de conviver com pessoas com as quais tive problemas de relacionamento. A vida é um grande tabuleiro de xadrez e precisamos aprender a nos movimentar diariamente nesse imenso cenário. As pessoas difíceis nos ensinam é nos treinam no  jogo da vida. Palmas para Elas!!

Cada um que passa em nossa vida (Saint Exupery)

Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única, e nenhuma substitui outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito; mas não há os que não levam nada. Há os que deixam muito; mas não há os que não deixam nada. Esta é a maior responsabilidade de nossa vida e a prova evidente que nada é ao acaso."
Antoine de Saint Exupery

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A profecia Maia não se cumpriu!

Corria desde o início de 2012 um boato sobre a profecia Maia de que o mundo se acabaria no dia 21 de dezembro de 2012.
Guardei secretamente dentro de mim o desejo de que o mundo se acabasse mesmo nessa data. Afinal, eu estava doente e o que me importa se o mundo acabasse mesmo  naquela data. Todos  morreriam, haveria o julgamento final e estaria tudo resolvido.
Quanta ingenuidade! Quanto egoísmo!! Quer dizer que se acabou pra mim, deve acabar pra todo mundo?
Cada um deve seguir com a sua dor, suportando o peso de sua cruz.
Fui descobrindo aos poucos que o mundo ainda não havia acabado pra mim!

domingo, 17 de novembro de 2013

De repente o verbo....

Dia 23 de novembro de 2012. Final de ano se aproximando, posse do novo reitor da UFS, relatórios de vendas para serem apreciados, e uma dorzinha persistente "na coluna", incomodando. Festa de encerramento da escola de minha filha Lívia e pedido do diretor do Senac para representá-lo na posse do reitor à noite. Fui à festa e não aguentei ficar. Vomitei antes da chegada. Dirigi-me a UFS e vomitei três vezes, A coisa ficou feia e resolvi voltar pra casa sem ir à posse. Construção do viaduto do Detran e mais vômito dessa vez dentro do carro sem a mínima chance de parar  naquela loucura.
Chegando em casa liguei para o meu irmão Graciano e nos dirigimos ao Hospital Primavera, na expectativa de logo voltar para casa. Doce ilusão! Treze longos dias me esperavam naquela casa!
Momentos de dor e solidão que tive que enfrentar sozinho vendo aos poucos o meu mundo sendo desconstruído, e os projetos se desvanecendo como um fim de sonho.
Visitei à UTI e as cenas que vi ali me assustaram profundamente! Ver aqueles seres humanos entubados,uma velhinha que de tanto gritar, estava rouca e só depois vim a saber que se tratava de uma tia de minha cunhada  Acácia, amarrada ao leito da UTI.
Essa é a primeira página de uma crônica que termina com o verbo dialisar...